terça-feira, 9 de outubro de 2007

Artigo de Opinião sobre o CEUF III

O artigo publicado abaixo é de responsabilidade de seu autor. O Greve Não É Férias não se posiciona com relação ao seu conteúdo e aceita outras contribuições opinativas sobre o CEUF.

Congresso Unesp Fatec: Avanço?

Com certeza sim! Embora a plenária final tenha sido truncada e desanimadora para qualquer estudante que tenha ido pela primeira vez a um congresso estudantil, esse XIX CEUF foi certamente produtivo. Só o fato de ele ter terminado normalmente sem ter "explodido" (quando tem uma confusão muito grande que acaba com o congresso sem ele ter acabado de fato) já representou um grande avanço em relação às edições anteriores.

Além dele se manter em pé até o fim, o Congresso tirou importantes resoluções que podem nortear não só o movimento estudantil do estado de São Paulo, mas todo o movimento social desse Estado. Dentre as resoluções, destacamos duas: Campanha contra a repressão e mudança na organização do DCE.

Repressão
A principal resolução do congresso foi iniciativa de tentar organizar estadualmente uma forte campanha contra a repressão que todos os movimentos sociais, que se colocaram em luta no primeiro semestre, estão sofrendo. Corte de pontos no Incra, 63 demissões no Metrô, sindicância na USP, perseguição na Unicamp, condenação a 2 anos de prisão para 3 estudantes da UNESP-Araraquara, borrachada na Fundação Santo André, Cosipa etc. E como se não bastasse, nosso "companheiro" Lula quer restringir a greve, nossa única arma frente ao capital.

De concreto, o congresso tirou:um ato no dia 8 de outubro em Araraquara durante reunião da Congregação que votará novas punições; incorporar na Marcha a Brasília contra as Reformas, do dia 24/10, a bandeira da repressão; atos no dia 31/10; organizar um comando estadual contra a repressão com delegados eleitos em assembléias de base com direito a voto e aberto a todos que queiram participar (proposta de um delegado a cada 50 participantes: de 1 a 50 = 1 delegado, de 51 a 100 = 2 delegados);

A idéia não é somente o movimento estudantil da Unesp/Fatec participar dessa campanha, e sim dar o pontapé inicial chamando os estudantes da USP, Unicamp, Fundação Santo André, Conlute, Intersindical, Conlutas, trabalhadores do Metrô, Incra, Cosipa, e até mesmo CUT e UNE.

Diretoria do DCE
Uma outra resolução muito importante que saiu desse CEUF foi a mudança de como é eleita a diretoria do DCE. Antes ela era eleita por urna em cada unidade, por chapa e proporcional (ou seja, a chapa elegia o número de diretores conforme a proporção de seus votos). A tese que os membros da Juli-RP assinaram tinha uma proposta bem clara de mudança: Horizontalização da estrutura de poder do DCE de forma que a diretoria executiva fosse composta por delegados, revogáveis, eleitos por assembléia de base em cada campi.

A proposta de horizontalização representou um embrião de um novo conceito de organização e não foi colocada de forma fechada, mas sim aberta para a discussão e novas sugestões dos estudantes. Com isso conseguimos uma grande adesão, mas detalhes como o quorum mínimo das assembléias e as datas limites para a realização das assembléias tiveram que ficar para serem discutidos na próxima reunião do conselho de entidades que será nos dias 27 e 28 em Franca. Neste CEEUF também será definida a forma que elegeremos os representantes discentes no Conselho Universitário.

Não temos nenhum fetiche por esse novo modo de organizar o DCE, muito menos achamos que somente com isso resolvemos nosso problema. Esse foi apenas o primeiro passo para um DCE mais atuante, mais democrático e presente na realidade de cada campi. De nada adianta uma forma de organização que julguemos ideal se o movimento não o fizer valer.

As últimas gestões encabeçadas pela UJS mostraram a importância de termos decidido por delegados revogáveis e não uma diretoria fixa por 2 anos. Eles (UJS) faziam o que bem entendiam no alto de seus postos de diretores, desrespeitando todas as resoluções dos Congresso. Luta CONTRA a Reforma Universitária proposta pelo Lula, virava luta PRÓ Reforma Universitária, só para citar um exemplo. Além de estarem completamente alheios a realidade dos estudantes "normais" em cada campi. Não estamos falando que agora é impossível acontecer esses atropelos, mas as chances disso voltar a acontecer diminuíram consideravelmente, levando em conta que a primeira mancada, a base pode revogar imediatamente o delegado e escolher outro que os represente melhor, leve realmente as propostas da base e não de sua cabeça.

CEEUF
O CEEUF, que acontece dias 27 e 28 de outubro em Franca, além de definir como se dará eleição dos delegados pelas assembléias de base, irá definir como serão realizadas a eleição dos RDs para o C.O. (Conselho Universitário) também irá encaminhar a campanha contra a repressão. Lembrando que o CEEUF é uma instância em que as entidades (D.A.'s, C.A.'s,...) tem voto, mas é aberta e todos estudantes têm voz.

C.O. (Conselho Universitário)
Não há nada no estatuto ou regimento da Unesp dizendo claramente que um aluno da Fatec não pode ser representante discente. "É uma armadilha esse estatuto da Unesp e as portarias que dispõem sobre isto. Fato é que em momento nenhum existe representante discente exclusivo da Unesp, porém na hora de citar os locais onde serão os representantes, também não cita as Fatec's como locais", explica Rafael Furlan da Unesp Ourinhos.

Por um tempo o superintendente do Ceeteps fez parte do C.O. mesmo o estatuto não prevendo isso. Por isso acreditamos que a deliberação do CEUF ("Que seja garantido o direito aos estudantes da Fatec a participar do Conselho Universitário da Unesp através da reformulação do estatuto da Unesp.") não representa qualquer diretriz de luta para o DCE, afinal, se é pra os estudantes esperarem a boa vontade da Unesp reformular seu estatuto para abrir o conselho para os fatecanos é melhor nem perdemos tempo nessa luta.

A proposta não era lutar para mudar o estatuto (luta inglória e burocrática), e sim indicar pelo menos um aluno de Fatec e outro de Campus Experimentais da Unesp mesmo que a revelia da reitoria ou do próprio Conselho Universitário.

Por falar em burocracia, teve gente que invocou o Código Civil para não alterarmos o estatuto de nosso DCE. Por mais que tivessem pessoas que estavam sinceramente preocupadas com tentativas de terceiros em revogar todo o Congresso através da Justiça. Não justifica, não precisamos nos pautarmos nas leis da democracia burguesa para ver como iremos nos organizar. Imagine como seria para o movimento negro se organizar enquanto ainda eram escravos, numa assembléia ninguém teria voz muito menos voto, a mesma coisa no movimento feminista antes de conquistarem direito ao voto, os sindicatos em épocas que a organização operária foi proibida, qualquer movimento social durante uma ditadura, ou o próprio movimento estudantil no primeiro semestre, que lei lhe garantia o direito de ocupar as reitorias?

Por muito tempo escutamos também que os Grêmios, Centros Acadêmicos etc não poderiam se organizar de forma horizontal, sem presidente, vice..., porque a Constituição não permitia. Azar o dela, nos organizamos do modo que acharmos melhor, isso se chama INDEPENDÊNCIA.

Organização
Uma crítica feita ao congresso se deu em relação ao seu custo (18 mil reais). Mas, infelizmente tais críticas não vieram acompanhadas da origem de tais custos. É importante ressaltar que a direção da Unesp de Bauru não permitiu que os estudantes se alojassem no campus e alugou o clube da polícia militar, que ficava longe do campus, para servir de alojamento. Tal atitude implicou não só no custo do aluguel mas também em custo com transporte dos estudantes.

Fora isso dentre o custo do congresso está contabilizado alguns fretamentos de ônibus que a reitoria fez a fim de "agradar" o movimento estudantil após um radicalizado primeiro semestre com greves e ocupações.

No saldo final só temos que parabenizar a organização, principalmente os estudantes e Bauru que rebolaram para nos disponibilizar as melhores condições possíveis para a realização dos debates, paineis e plenária final. Cabe também um agradecimento especial aos funcionários do Restaurante Universitário que nos forneceram a melhor comida já degustada em um encontro de movimento estudantil ou social.

Uma crítica fica para a fraca divulgação do congresso, erro já reconhecido pelos organizadores, e a má escolha da data, afinal, se o congresso fosse realizado em um feriado de 3 dias seria possível melhorar ainda mais a discussão dando mais tempo para os problemas de cada campi e ainda sobrar um tempo para conhecermos a cidade sede.

Fábio Pinto é estudante da Fatec Praia Grande e membro da Juventude Libertária da Resistência Popular

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Enfim, o laboratório do Biologia

Em visita ao campus de Bauru na última quinta-feira (4 de outubro), o vice-reitor, Herman Voorvald, afirmou que a verba para a construção do novo laboratório de biologia já foi liberada. A construção do prédio deve começar ainda em 2007.
Em breve, o GNEF trará mais informações sobre o caso.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Artigo de Opinião sobre CEUF II

O artigo publicado abaixo é de responsabilidade de seu autor. O Greve Não É Férias não se posiciona com relação ao seu conteúdo e aceita outras contribuições opinativas sobre o CEUF.

Balanço do CEUF
O princípio e o fim

Só pra começar a avaliar o Congresso, acho importante refletir sobre alguns pontos, sendo que o principal é: como e para quê deve organizar-se o movimento estudantil?

Pra isso, tentemos relembrar o primeiro semestre. Antes mesmo do início das aulas, o governador José Serra se posiciona claramente em relação às Universidades estaduais paulistas, lançando decretos que impedem contratação de professores e funcionários, restringem ainda mais o orçamento e interferem na autonomia universitária. Antes mesmo do início das aulas, portanto, muitos de nós estávamos analisando a conjuntura política estadual e concluindo que a política do governo ia na contramão daquilo que o Movimento Estudantil historicamente reivindica: ensino de qualidade para todos.

Essa análise de conjuntura, seguida de assembléias, discussões, greves, ocupações e manifestações, mostrou que, assim como o governador, o ME também se posiciona claramente em relação aos ataques que sofre.

Mas quando o Serra lança seus decretos, ele não atinge apenas as universidades, mas quase a totalidade do funcionalismo público paulista. As políticas para a educação estão interligadas às políticas para todas as áreas. Então, de que adianta reivindicar mais professores, mais verbas, mais laboratórios, mais qualidade de ensino, sem pensar em uma lógica de sociedade onde isso é possível?

E qual era a situação da organização estudantil naquele momento? Unesp e Fatec estavam há dois anos sem DCE, mas USP e Unicamp possuíam, sim, entidades eleitas de acordo com seus respectivos estatutos. Mas o DCE da USP, comandado por militantes do PT, nem a favor da ocupação era (mesmo num contexto estadual, onde, diante do governo do PSDB, o PT ainda tenta se colocar como esquerda). O da Unicamp, comandado pelo PSOL também não fez nada para contribuir com a mobilização real dos estudantes de sua base. Exemplos de que nada adianta uma organização burocrática como manda o figurino se ela estiver deslocada de sua base. Mas as dificuldades de articulação durante a greve mostram também a necessidade de uma nova organização.

Então, quando começamos a organizar esse CEUF, a preocupação era garantir um espaço onde fosse possível refletir e discutir sobre a realidade da qual fazemos parte e nos posicionarmos sobre ela. Como fazer isso? Propusemos um grupo de discussões sobre conjuntura nacional e estadual. E no grupo, há liberdade para expor e propor posicionamentos, que acabam funcionando como norte do próprio movimento. Isso não é brincar de Che Guevara ou querer salvar a baleia azul. Mas é óbvio que surgem propostas muitas vezes inúteis, às vezes incompreensíveis, às vezes desnecessárias. É impossível podar as pessoas. Cabe à plenária julgar, para que conste no conjunto de resoluções do Congresso, as bandeiras e os posicionamentos que contemplem a maioria dos estudantes presentes. Não tem como alguém ficar lá controlando tudo que é proposto, tudo que é votado. É um trabalho coletivo, é difícil haver consenso, mas não dá pra achar que tudo tem um culpado X ou Y, ou é manobra de partido, ou isso ou aquilo. As pessoas têm direito de se expressar e propor, e algumas não têm muito bom senso mesmo, é preciso um pouquinho de paciência também...

Falam em falta de maturidade. O ME é efêmero e policlassista. Mais do que qualquer movimento ou grupo de pressão, é completamente heterogêneo. É muito complicado exigir que ele aja de forma “madura”. Estou no terceiro ano, e só agora começo a entender como algumas coisas funcionam. No CEUF de 2005 eu era delegada e mal conseguia distinguir bem os posicionamentos ou entender o que estava acontecendo. E acho que isso vale pra muita gente. É difícil acumular alguma coisa para o movimento, se a participação das pessoas é tão passageira.

Daí o meu balanço...

Sobre as deliberações da Plenária em relação ao DCE e o Estatuto.

Optar por um DCE formado por delegados eleitos em assembléias de base é justamente a resposta dos estudantes à experiência do primeiro semestre e dos últimos anos, em que direções descoladas da base tomavam o aparato para si e de nada serviam para a articulação das lutas contra o sucateamento do ensino e por uma sociedade onde seja possível ensino de qualidade para todos.

Quanto a definir os tramites das assembléias durante um Conselho de entidades, quando poderíamos ter decidido isso no próprio CEUF, acho bastante preocupante. Depois de ter sido votado que NÃO queríamos um DCE provisório, formado por entidades, delegamos a esse Conselho a tarefa de organizar as assembléias. Além de perder um momento muito mais representativo (o CEUF), isso atrasa ainda mais a definição do DCE.

Agora, quanto ao Estatuto, acho que nada adiantaria votarmos artigo por artigo, com 2/3 de aprovação para cada ponto, se o que pretendíamos de mais importante para o nosso DCE é que ele seja um instrumento verdadeiramente a serviço do ME. Nós mudamos o Estatuto e mudamos também a lógica do movimento estudantil, de uma vez só. Isso pode não estar de acordo com a Constituição, mas não é a lei que define e coordena nossas ações. Não foi a Constituição que determinou “ocupação de Reitoria é permitida uma vez que o (a) Reitor (a) recusar-se a dialogar com os estudantes”. Não foi também por causa da Lei que o Reitor liberou R$18.000 para realizar esse Congresso, mas devido à pressão do primeiro semestre. Não foi através da reivindicação de 10 representantes discentes em um CO que as moradias e restaurantes universitários existentes nos campi da Unesp foram construídos. Foi através de pressão.

Por outro lado, uma coisa que ficou evidente aqui em Bauru, e que provavelmente vale pros outros campi também, é que nós fomos totalmente incompetentes para divulgar o Congresso. E não me refiro apenas a quantos cartazes foram colados. Durante a greve, quantas pessoas fizeram parte de comissões, foram às manifestações. E quantas dessas pessoas estavam aqui no CEUF?

Sabíamos desde o início do ano o quanto tínhamos que nos preparar para esse Congresso. Marcamos grupos de discussão com facilitadores, mas não os divulgamos. Passamos em salas somente na última semana, apenas para “coletar assinaturas”. Será que não tínhamos capacidade para fazer um trabalho melhor? Eu acho que sim. Nem precisaria fazer muita coisa. Se não tivessem ficado tão poucas pessoas com tanta coisa pra fazer, daria pra pensar melhor em como fazer essa construção como um todo.

Natália Mantovan é estudante do terceiro ano de jornalismo da Unesp-Bauru, membro do Centro Acadêmico de Comunicação Florestan Fernandes (Cacoff) e uma das organizadoras do CEUF 2007.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Artigo de Opinião sobre o CEUF

O artigo publicado abaixo é de responsabilidade de seu autor. O Greve Não É Férias não se posiciona com relação ao seu conteúdo e aceita outras contribuições opinativas sobre o CEUF.

Brincando de Che Guevara
Congresso Unespiano evidencia necessidade do Movimento Estudantil se repensar e abolir a ingenuidade

Três dias e R$18 mil reais depois, o CEUF (Congresso Estudantil da Unesp e Fatec) terminou com a implementação de poucas mudanças significativas na organização do movimento estudantil. Discursos vazios, picuinhas entre integrantes de partidos políticos e a insistência em gastar horas e mais horas debatendo temas alheios à pauta estudantil, fizeram com que as questões de fato mais relevantes para os estudantes não fossem debatidas ou fossem votadas a toque de caixa.

A falta de professores nas Unidades Diferenciadas, os cortes de verbas de pesquisa, a meia passagem de ônibus para estudantes, a carência de assistência estudantil (tal como moradia, R.U. etc.) não foram sequer mencionados na plenária do dia 30. Em vez disso, membros de diversas organizações ligadas a governos, sindicatos de outras categorias e partidos políticos (tais como a Conlute, do PSTU, e a UJS, do PCdoB) fizeram entrar na pauta ao longo de todo o encontro temas como etanol, maioridade penal, uma suposta repressão às mulheres nas Fatecs, o fim da Minustah, e bateram boca se Hugo Chávez é "do bem" ou "do mal". Muito interessante debater essas coisas, mas em eventos, fóruns, salas de aula e mesas de bar, reservadas para este fim. Ou alguém realmente acredita que Bush e Lula desistiriam de seus acordos energéticos bilionários porque alguns jovens e adolescentes reunidos no interior paulista assim o querem?

O resultado é que a maior parte do mecanismo do novo DCE (Diretório Central dos Estudantes), órgão máximo de representação estudantil, não foi decidido pelo CEUF, uma reunião da qual poderia participar qualquer estudante que se candidatasse a delegado, sem necessidade de pertencer a alguma entidade. Os aspectos ainda pendentes, tais como mecanismo de controle, periodicidade de mandato e organização do processo de eleição ficará a cargo de um conjunto de "notáveis" membros de entidades que se reunirão em Conselho no campus de Franca nos próximo dias 27 e 28. Mantivemos a tradição de fazer reunião para marcar mais reunião.

Se o movimento fosse mais maduro, não precisaria refundar o DCE tantas e tantas vezes e já teria essa instituição solidificada e com voz ativa, podendo fazer muito mais pela categoria estudantil. Infelizmente, aqueles que gostam de ficar brincando de Che Guevara acreditam ser capazes de salvar o mundo inteiro, dos sem-teto à baleia azul (passando, é claro, pelo proletariado mexicano), mesmo demonstrando incompetência em garantir R$ 1,00 de desconto no transporte coletivo. O movimento estudantil precisa voltar a ser o Movimento Estudantil. Quando estiverem organizados o suficiente, aí sim, talvez um dia os estudantes possam apoiar ou não o movimento separatista tamil no leste do Sri Lanka.

Como única vitória dos estudantes pode-se destacar o fato de que agora as eleições do DCE será feita escolhendo-se um representante por campus. Antes era feita pela eleição com lista fechada de modo que os estudantes votavam em pessoas que nem mesmo conheciam. Assim, muitos campi ficavam sem representação e as organizações que recebem verbas de partidos e afins eram as únicas com condições de fazer campanha e viajar pelos campi para "fiscalizar" as eleições. Isso tornava a fraude algo fácil de acontecer. Os campi com vocação mais independente, isto é, onde os estudantes não são subservientes a nenhum partido, ficavam reféns desse poderio econômico dos partidos, e jamais conseguiam voz.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido. O movimento estudantil precisa se repensar para atingir resultados práticos. A primeira coisa a ser feita é fazer os imaturos que pensam ser redentores de todo o universo entenderem que a "luta" é o meio e não tem o fim em si mesmo. Só assim os estudantes conseguiriam conquistar aquilo que demandam de verdade. Resumindo: mais racionalidade e menos papo-furado.

Leandro Cruz é professor e historiador formado pela Unesp-Franca, atualmente cursa Jornalismo na Unesp-Bauru

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Eleição por assembléia, uma grande mudança

No fim das contas, o décimo oitavo CEUF serviu para fazer uma grande mudança no estuto: a eleição por assembléias de base.

Com o antigo modo de eleição por chapas, com urnas sendo passadas de campus para campus, algumas injustiças aconteciam. Fraudes e vantagens para quem tivesse o melhor aparato eleitoral para percorrer o Estado em um mês de eleição eram as principais. Porém, também há a possibilidade de "racha" no DCE e burocratização com o método de assembléias de base.

A ex-membro do DCE e militante da Esquerda Marxista, do PT, Juliana Leitão, afirma que há dificuldades em eleições organizadas por assembléias de base. "Fica muito desfragmentado. há muita chance de dar errado", diz.

Já a independente Natália Mantovan acredita que, deste modo, "o DCE vai representar o movimento estudantil", já que cada campus terá o seu representante no DCE.


O que faltou no CEUF 2007 foi a discussão dos critérios eleitorais para a eleição do DCE. Esses pontos foram prorrogados para o CEEUF (Conselho das Entidades Estudantis da Unesp e Fatec), que ocorre em Franca, nos dias 27 e 28 de outubro.

Apesar da excessiva demora para votar assuntos menos importantes durante a assembléia, o processo eleitoral está encaminhado e, no meu modo de ver, de maneira mais justa.

Alberto Cerri

Plenária Final

No último dia de congresso (30), a plenária final estava marcada para começar às 8h, no Guilhermão, mas problemas organizacionais atrasaram bastante o cronograma.

A plenária começou às 11h com a discussão sobre aceitar ou não o credenciamento de alguns campi que haviam esquecido documentos (Marília e Rio Preto). Depois do almoço, a plenária decidiu que o credenciamento seria aceito e a mesa propôs um encaminhamento da pauta que deixava as questões referentes ao DCE e seu estatuto para o final da tarde.

O estudante Luiz Augusto (Goiaba), de Bauru, propôs outro encaminhamento (começar com DCE, estatuto e repressão). Sua proposta foi aceita e a discussão teve início. Porém surgiu a constatação de que, para fazer qualquer mudança estatutária seriam necessários dois terços dos votos dos delegados. Estava feito o impasse: votar a mudança estatutária por dois terços uma vez e mudar os demais itens por maioria simples ou votar todas as mudanças (uma por uma) por dois terços? Depois de tanta obstrução (cerca de duas horas sem nenhuma votação), a estudante Tchela, de Franca, propôs "desencanar" do estatuto e votar as bandeiras do movimento estudantil, o que foi aceito pela plenária. Além disso, a mesa foi destituída e outro estudantes a compuseram.

No início das votações das bandeiras de luta, o estudante Leandro, de Bauru, fez uma fala pedindo mais comprometimento da plenária. "Vamos ter mais responsabilidade! Primeiro vamos votar o estatuto e o DCE, depois a gente brinca de salvar o mundo", afirmou o estudante, em tom irônico. Mesmo assim, as votações das bandeiras continuaram ate às 17h40.

Deliberações - DCE
As deliberações com relação ao DCE e ao estatuto foram as seguintes:
- Assembléias de base elegem os membros do DCE (e não por chapa como era antes);
- Não será eleito nenhum DCE provisório;
- Marcado um CEEUF (Conselho das Entidades Estudantis da Unesp e Fatec) para os dias 27 e 29 de outubro, em Franca, que decidirá os critérios para eleição do DCE;
- O DCE terá caráter deliberativo;
-É necessário ter 25% dos campi (e não 50% como determinava o estatuto) para chamar um CEUF;
- Os campi desmobilizados não terão necessidade de quórum mínimo para elegerem delegados.

Socialismo do Século XXI

O painel com o tema "Socialimo do Século XXI", uma das atividades mais esperadas do CEUF, teve início às 21h do sábado, dia 29. Os debatedores presentes foram Ricardo Festi, mestrando em Sociologia pela Unicamp e militante da LER-QI (Liga Estratégica Revolucionária Quarta Internacional); e Caio Dezorzi, ator, professor, arte-educador, formado em Artes, ex-membro do DCE da Unesp e militante da corrente "Esquerda Marxista" do PT (Partido dos Trabalhadores). O mediador foi o professor do Departamento de Ciências Humanas da Unesp Bauru, Maximiliano Vicente.

O painel começou com o militante do PT fazendo diversas críticas ao governo de Hugo Chávez, considerando que o venezualeano é "um pequeno burguês nacionalista". Mesmo assim, Dezorzi acredita que há um processo revolucionário no país. "A Venezuela é um Estado burguês onde a burguesia não domina. Apesar de tudo é um governo revolucionário". Caio ainda apontou projetos do governo Chávez como reforma agrária, fechamento do canal RCTV como pontos revolucionário do governo. Para o petista, apenas parte da burguesia venezuelana se beneficia com Chávez.

Ricardo Festi defendeu o argumento de que Chávez é tão burguês quanto vários governos conhecidos (Perón, Vargas, etc), além de ser populista. Para o militante da LER-QI, o venezuelano organiza medidas que enganam os esquerdistas no mundo inteiro, pois quem realmente se beneficia do grande aumento econômico que ocorre no país é a burguesia. Festi também falou sobre a repressão que alguns trabalhadores de fábricas sofreram da Tropa Nacional de Chávez. Além de dizer que as nacionalizações são uma falácia, pois o número delas com relação ao tempo de mandato de Chávez é irrisório.

Perguntas
As perguntas da platéia acabaram sendo dominadas por estudantes partidários (o que tornava a pergunta um discurso político). Depois de um tempo, alguns independentes se manifestaram contra essas perguntas que serviam para demarcar posições partidárias.

As questões mais centrais do debate com a platéria foram: "o que fazer com o petróleo?" e "combater Chávez não seria se aliar à direita?".
Dezorzi afirmou que o petróleo tem que ser vendido para que o povo se beneficie e sim, combater Chávez neste momento é se aliar à direita.
Festi disse que o petróleo deve ser substituído e que ele só enriquece os ricos na Venezuela. Como Chávez é membro da burguesia e trabalha para ela, ele deve sim ser combatido.

Sem dúvidas, o debate serviu para os estudantes compreenderem melhor a conjuntura internacional.

O início do CEUF

Com cerca de 250 estudantes de 18 campi* da Unesp e da Fatec, o Congresso de Estudantes começou com o credenciamento dos delegados na sexta-feira, dia 28.

No segundo dia de CEUF, a manhã começou com cerca de 6 grupos de discussão debatendo "Conjuntura Nacional e Estadual". Porém, como a principal questão do congresso era a mudança de itens do estatuto do Diretório Central de Estudantes, por diversas vezes o tema acabou em DCE (pelo menos no GD em que este repórter se encontrava).

Após o almoço, as discussões sobre o estatuto do DCE finalmente puderam ser travadas sem nenhum impedimento. Na grande maioria do GDs, o estatuto da Unesp foi lido e os estudantes presentes puderam destacar pontos que gostaria de mudar ou de ter mais esclarecimento. As principais discussões ficaram na questão do modo de eleição da diretoria do DCE: uns diziam que ela deveria ser formadas por chapas que percorreriam os campi em processo eleitoral e outros defendiam a eleição de um representante por campi, sem que chapas fossem formadas.

Alberto Cerri

*campi presentes: Unesp (Araraquara, Franca, Botucatu, Marília, Rio Preto, S. Vicente, S.J. Campos, Ourinhos, Presidentes Prudente, Rio Claro, Rosana, Araçatuba, Guaratinguetá) Fatec (São Paulo, Sorocaba, Praia grande e Santos). OBS: nem todos os campi tinham delegados.