sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Artigo de Opinião sobre CEUF II

O artigo publicado abaixo é de responsabilidade de seu autor. O Greve Não É Férias não se posiciona com relação ao seu conteúdo e aceita outras contribuições opinativas sobre o CEUF.

Balanço do CEUF
O princípio e o fim

Só pra começar a avaliar o Congresso, acho importante refletir sobre alguns pontos, sendo que o principal é: como e para quê deve organizar-se o movimento estudantil?

Pra isso, tentemos relembrar o primeiro semestre. Antes mesmo do início das aulas, o governador José Serra se posiciona claramente em relação às Universidades estaduais paulistas, lançando decretos que impedem contratação de professores e funcionários, restringem ainda mais o orçamento e interferem na autonomia universitária. Antes mesmo do início das aulas, portanto, muitos de nós estávamos analisando a conjuntura política estadual e concluindo que a política do governo ia na contramão daquilo que o Movimento Estudantil historicamente reivindica: ensino de qualidade para todos.

Essa análise de conjuntura, seguida de assembléias, discussões, greves, ocupações e manifestações, mostrou que, assim como o governador, o ME também se posiciona claramente em relação aos ataques que sofre.

Mas quando o Serra lança seus decretos, ele não atinge apenas as universidades, mas quase a totalidade do funcionalismo público paulista. As políticas para a educação estão interligadas às políticas para todas as áreas. Então, de que adianta reivindicar mais professores, mais verbas, mais laboratórios, mais qualidade de ensino, sem pensar em uma lógica de sociedade onde isso é possível?

E qual era a situação da organização estudantil naquele momento? Unesp e Fatec estavam há dois anos sem DCE, mas USP e Unicamp possuíam, sim, entidades eleitas de acordo com seus respectivos estatutos. Mas o DCE da USP, comandado por militantes do PT, nem a favor da ocupação era (mesmo num contexto estadual, onde, diante do governo do PSDB, o PT ainda tenta se colocar como esquerda). O da Unicamp, comandado pelo PSOL também não fez nada para contribuir com a mobilização real dos estudantes de sua base. Exemplos de que nada adianta uma organização burocrática como manda o figurino se ela estiver deslocada de sua base. Mas as dificuldades de articulação durante a greve mostram também a necessidade de uma nova organização.

Então, quando começamos a organizar esse CEUF, a preocupação era garantir um espaço onde fosse possível refletir e discutir sobre a realidade da qual fazemos parte e nos posicionarmos sobre ela. Como fazer isso? Propusemos um grupo de discussões sobre conjuntura nacional e estadual. E no grupo, há liberdade para expor e propor posicionamentos, que acabam funcionando como norte do próprio movimento. Isso não é brincar de Che Guevara ou querer salvar a baleia azul. Mas é óbvio que surgem propostas muitas vezes inúteis, às vezes incompreensíveis, às vezes desnecessárias. É impossível podar as pessoas. Cabe à plenária julgar, para que conste no conjunto de resoluções do Congresso, as bandeiras e os posicionamentos que contemplem a maioria dos estudantes presentes. Não tem como alguém ficar lá controlando tudo que é proposto, tudo que é votado. É um trabalho coletivo, é difícil haver consenso, mas não dá pra achar que tudo tem um culpado X ou Y, ou é manobra de partido, ou isso ou aquilo. As pessoas têm direito de se expressar e propor, e algumas não têm muito bom senso mesmo, é preciso um pouquinho de paciência também...

Falam em falta de maturidade. O ME é efêmero e policlassista. Mais do que qualquer movimento ou grupo de pressão, é completamente heterogêneo. É muito complicado exigir que ele aja de forma “madura”. Estou no terceiro ano, e só agora começo a entender como algumas coisas funcionam. No CEUF de 2005 eu era delegada e mal conseguia distinguir bem os posicionamentos ou entender o que estava acontecendo. E acho que isso vale pra muita gente. É difícil acumular alguma coisa para o movimento, se a participação das pessoas é tão passageira.

Daí o meu balanço...

Sobre as deliberações da Plenária em relação ao DCE e o Estatuto.

Optar por um DCE formado por delegados eleitos em assembléias de base é justamente a resposta dos estudantes à experiência do primeiro semestre e dos últimos anos, em que direções descoladas da base tomavam o aparato para si e de nada serviam para a articulação das lutas contra o sucateamento do ensino e por uma sociedade onde seja possível ensino de qualidade para todos.

Quanto a definir os tramites das assembléias durante um Conselho de entidades, quando poderíamos ter decidido isso no próprio CEUF, acho bastante preocupante. Depois de ter sido votado que NÃO queríamos um DCE provisório, formado por entidades, delegamos a esse Conselho a tarefa de organizar as assembléias. Além de perder um momento muito mais representativo (o CEUF), isso atrasa ainda mais a definição do DCE.

Agora, quanto ao Estatuto, acho que nada adiantaria votarmos artigo por artigo, com 2/3 de aprovação para cada ponto, se o que pretendíamos de mais importante para o nosso DCE é que ele seja um instrumento verdadeiramente a serviço do ME. Nós mudamos o Estatuto e mudamos também a lógica do movimento estudantil, de uma vez só. Isso pode não estar de acordo com a Constituição, mas não é a lei que define e coordena nossas ações. Não foi a Constituição que determinou “ocupação de Reitoria é permitida uma vez que o (a) Reitor (a) recusar-se a dialogar com os estudantes”. Não foi também por causa da Lei que o Reitor liberou R$18.000 para realizar esse Congresso, mas devido à pressão do primeiro semestre. Não foi através da reivindicação de 10 representantes discentes em um CO que as moradias e restaurantes universitários existentes nos campi da Unesp foram construídos. Foi através de pressão.

Por outro lado, uma coisa que ficou evidente aqui em Bauru, e que provavelmente vale pros outros campi também, é que nós fomos totalmente incompetentes para divulgar o Congresso. E não me refiro apenas a quantos cartazes foram colados. Durante a greve, quantas pessoas fizeram parte de comissões, foram às manifestações. E quantas dessas pessoas estavam aqui no CEUF?

Sabíamos desde o início do ano o quanto tínhamos que nos preparar para esse Congresso. Marcamos grupos de discussão com facilitadores, mas não os divulgamos. Passamos em salas somente na última semana, apenas para “coletar assinaturas”. Será que não tínhamos capacidade para fazer um trabalho melhor? Eu acho que sim. Nem precisaria fazer muita coisa. Se não tivessem ficado tão poucas pessoas com tanta coisa pra fazer, daria pra pensar melhor em como fazer essa construção como um todo.

Natália Mantovan é estudante do terceiro ano de jornalismo da Unesp-Bauru, membro do Centro Acadêmico de Comunicação Florestan Fernandes (Cacoff) e uma das organizadoras do CEUF 2007.

4 comentários:

Anônimo disse...

Natalia,
Sim, a universidade deve debater temas de conjuntura nacional, internacional e estadual. Deve discutir o impacto ambiental, social e economico das negoociações acerca do etanol; deve pensar e até agir para a redução das desigualdades e injustiças que acontecem no campo e na cidade. MAAAAS para isso, devem ser formados grupos de estudo, grupos de extenção, organizados simpósios e seminários com este fim. Em Franca, por exemplo, há grupos como Gapaf (Grupo de Alfabetização Paulo Freire, que debate a educação e alfabetiza adultos nas cadeias e periferias)e Natra (Nucleo Agrário Terra e Raiz, que debate a questão da Terra e dá escola crianças sem-terra e ajuda os assentados a aumentarem a produção e venderem seus produtos. Nebates deve haver espaço para opiniões divergentes
A questão é: congressos estudantil, como o da semana passada NÂO ERA O ESPAÇO NEM A OCASIÃO PARA SE DEBATER ESSAS COISAS. Além disso não podemos deliberar sobre estes assuntos a toque de caixa, quando muitas pessoas nem sequer sabia do que estava se falando e afirmar que aquilo é uma bandeira de todos os estudantes das Unesp-Fatecs. Isso acaba parecendo mais é que os partidões e outras facções similares estão simplesmente roubando o congresso para divulgar suas bandeiras outras e fazer propaganda demagógica...

J.Silva disse...

Relaxem, no fim tudo dá certo, se não deu certo é porque não chegou no fim ainda...

Xenya Bucchioni disse...

Nati..
Primeiro parabéns pelo seu artigo! Eu achei muito bom..primeiro por você ter tido coragem de escreve-lo, não é fácil assumir nossas opiniões e, tão pouco, fazer esse tipo de análise. Em segundo porque você foi além da superfície ao mostrar que o ME está sim dentro de uma lógica que é maior do que ele próprio, que não está pairando no ar desvinculado de todas as outras conjunturas. Por isso é importante sim que façamos tal debate, pois é por meio dessa discussão que conseguimos nos situar no contexto histórico atual. Mas, assim como você eu acredito que as coisas se perdem um pouco na euforia da discussão e muitas decisões importantes acabam ficando para depois, para outra ocasião e, as vezes, por conta de uma minoria. Acho que deveríamos dar mais atenção as nossas questões, isso não significa egoismo, mas sim um olhar atento e com vontade de mudança real em nossa realidade. Realmente é pouco tempo para digerir tudo..mas caminhemos!

Anônimo disse...

Na lista

me_unesp_fatec@yahoogrupos|com|br

algumas pessoas mandaram avaliaçôes do CEUF.. se pah seria o caso de publicar também...

tem uma bem interessante...

=)