quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Artigo de Opinião sobre o CEUF

O artigo publicado abaixo é de responsabilidade de seu autor. O Greve Não É Férias não se posiciona com relação ao seu conteúdo e aceita outras contribuições opinativas sobre o CEUF.

Brincando de Che Guevara
Congresso Unespiano evidencia necessidade do Movimento Estudantil se repensar e abolir a ingenuidade

Três dias e R$18 mil reais depois, o CEUF (Congresso Estudantil da Unesp e Fatec) terminou com a implementação de poucas mudanças significativas na organização do movimento estudantil. Discursos vazios, picuinhas entre integrantes de partidos políticos e a insistência em gastar horas e mais horas debatendo temas alheios à pauta estudantil, fizeram com que as questões de fato mais relevantes para os estudantes não fossem debatidas ou fossem votadas a toque de caixa.

A falta de professores nas Unidades Diferenciadas, os cortes de verbas de pesquisa, a meia passagem de ônibus para estudantes, a carência de assistência estudantil (tal como moradia, R.U. etc.) não foram sequer mencionados na plenária do dia 30. Em vez disso, membros de diversas organizações ligadas a governos, sindicatos de outras categorias e partidos políticos (tais como a Conlute, do PSTU, e a UJS, do PCdoB) fizeram entrar na pauta ao longo de todo o encontro temas como etanol, maioridade penal, uma suposta repressão às mulheres nas Fatecs, o fim da Minustah, e bateram boca se Hugo Chávez é "do bem" ou "do mal". Muito interessante debater essas coisas, mas em eventos, fóruns, salas de aula e mesas de bar, reservadas para este fim. Ou alguém realmente acredita que Bush e Lula desistiriam de seus acordos energéticos bilionários porque alguns jovens e adolescentes reunidos no interior paulista assim o querem?

O resultado é que a maior parte do mecanismo do novo DCE (Diretório Central dos Estudantes), órgão máximo de representação estudantil, não foi decidido pelo CEUF, uma reunião da qual poderia participar qualquer estudante que se candidatasse a delegado, sem necessidade de pertencer a alguma entidade. Os aspectos ainda pendentes, tais como mecanismo de controle, periodicidade de mandato e organização do processo de eleição ficará a cargo de um conjunto de "notáveis" membros de entidades que se reunirão em Conselho no campus de Franca nos próximo dias 27 e 28. Mantivemos a tradição de fazer reunião para marcar mais reunião.

Se o movimento fosse mais maduro, não precisaria refundar o DCE tantas e tantas vezes e já teria essa instituição solidificada e com voz ativa, podendo fazer muito mais pela categoria estudantil. Infelizmente, aqueles que gostam de ficar brincando de Che Guevara acreditam ser capazes de salvar o mundo inteiro, dos sem-teto à baleia azul (passando, é claro, pelo proletariado mexicano), mesmo demonstrando incompetência em garantir R$ 1,00 de desconto no transporte coletivo. O movimento estudantil precisa voltar a ser o Movimento Estudantil. Quando estiverem organizados o suficiente, aí sim, talvez um dia os estudantes possam apoiar ou não o movimento separatista tamil no leste do Sri Lanka.

Como única vitória dos estudantes pode-se destacar o fato de que agora as eleições do DCE será feita escolhendo-se um representante por campus. Antes era feita pela eleição com lista fechada de modo que os estudantes votavam em pessoas que nem mesmo conheciam. Assim, muitos campi ficavam sem representação e as organizações que recebem verbas de partidos e afins eram as únicas com condições de fazer campanha e viajar pelos campi para "fiscalizar" as eleições. Isso tornava a fraude algo fácil de acontecer. Os campi com vocação mais independente, isto é, onde os estudantes não são subservientes a nenhum partido, ficavam reféns desse poderio econômico dos partidos, e jamais conseguiam voz.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido. O movimento estudantil precisa se repensar para atingir resultados práticos. A primeira coisa a ser feita é fazer os imaturos que pensam ser redentores de todo o universo entenderem que a "luta" é o meio e não tem o fim em si mesmo. Só assim os estudantes conseguiriam conquistar aquilo que demandam de verdade. Resumindo: mais racionalidade e menos papo-furado.

Leandro Cruz é professor e historiador formado pela Unesp-Franca, atualmente cursa Jornalismo na Unesp-Bauru

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com vários pontos desse artigo, mas há várias coisas que você não levou em consideração e você ignorou...

Acho que vou escrever um artigo também, pra tentar colocar esses pontos...

Mas gostei de ver esse espaço do blog sendo usado pra isso, acho que esses "artigos" podem ajudar muito a nós mesmos pra fazer balanços mais consequentes e racionais sobre esse Congresso, e sair da superficialidade de achar que tudo é "falta de organização", tudo é "manobra de militantes profissionais", e botar a culpa no Movimento estudantil (como se nós não fizessemos parte dele)...

Juventude Libertária disse...

Boa parte da análise é boa mas, em muitos casos, parece uma critica vazia de quem não participou, afinal, erros foram cometidos mas é necessário observar as condições que foram dadas a boa realização do congresso.

pra começar o titulo é nada criativo, por sinal, tipico de autores de direita (que provavelmente não é o caso).

Realmente foi ruim ter deixado definições para o ceeuf, entretanto não dava pra ter adiantado nada sem entes votar se haveria ou não essa mudança estrutural no poder no DCE que, felizmente, na minha opinião, passou.

Os 18 mil gastos serviram basicamente para alugar um alojamento sem necessidade (o que não foi culpa dos estudantes) e para bancar a alimentação do pessoal. De nada ele serviu para dar estrutura para o congresso que nem ao menos contou com um sistema de som adequado e um auditório para realizarmos um GD unificado sobre estatuto. Veja que isso não foi culpa da organização nem dos estudantes.

Em relação aos temas diversos, pelo o que eu pude notar eles sairam com resoluções do congresso porque as pessoas mandaram por escrito e não perdemos tempo nos GDs discutindo esses temas. Ao meu ver o pouco tempo que tivemos foi mal aproveitado. Só acho que esse congresso poderia ter sido realizado em um feriado de 3 dias. Mas até aí não adianta ficar reclamando pelo passado. Temos que considerar sim essas criticas e tentar diminuir os erros no futuro

Giovanni Giocondo disse...

O número de membros do DCE e os locais de onde tais notáveis virão ainda não foram definidos.
Não procede que será um por campus, isso ainda não foi definido.
Concordo com todos os pontos onde se criticam as bandeiras levantadas por parte do movimento estudantil, mas acredito que a burocracia que ainda se mantém no mesmo continua sendo o grande vilão de nossas deliberações.
Na mesma medida, discordo de que os membros de diretórios e centros acadêmicos sejam os tais notáveis que decidirão no CEEUF or rumos do DCE.
Mesmo alguns estudantes altamente representativos politicamente, vide o Del, de Marília, por exemplo, que participou da formação da segunda mesa da plenária final, não poderão decidir nesse Conselho de Entidades por não fazerem parte das mesmas.
Independente de quem sejam essas pessoas, elas tem a representatividade das eleições às quais se sujeitaram e, com toda certeza, com mais calma depois de passada a tempestade do CEUF, estarão aptas a decidir sobre os rumos do movimento estudantil na UNESP e FATEC, desenhando possibilidades de mudança no mesmo e abarcando novas idéias que, não muito exploradas durante o congresso, possam manifestar mudanças efetivas em todas as formas que o movimento deva evoluir, reciclando idéias e atitudes, transformando a demagogia em planos de ação, e a partir do advento da formação do DCE por votos em assembléias locais, definir novas possibilidades de um movimento estudantil democrático e de participação contínua de quem o sustenta, nós, estudantes.